O escritor e activista americano A.J. Weberman pediu informações à CIA sobre os presumíveis autores de Camarate. Mas a agência negou qualquer resposta

 

Por: Frederico Duarte Carvalho, jornalista e escritor (blog – facebook)

 

As confissões de Fernando Farinha Simões e José Esteves que citam o nome do americano Frank Sturgis, um dos assaltantes do edifício Watergate, como sendo autor moral do atentado contra o primeiro-ministro Sá Carneiro, já chegaram aos EUA. O escritor e activista americano A.J. Weberman, que investigou a morte do Presidente Kennedy – onde acusa o mesmo Frank Sturgis de ter sido um dos assassinos -, enviou no passado mês de Maio um pedido de informações para a CIA, o chamado Freedom of Information Act (FOIA). A.J. Weberman quis saber que tipo de informações a CIA dispõe sobre os autores daquela confissão, os cidadãos portugueses Fernando Farinha Simões e José Esteves.

Estes dois últimos dizem que Frank Sturgis, a mando da CIA e em conjugação com o então director-adjunto da CIA e ex-embaixador dos EUA em Lisboa, Frank Carlucci, organizou o atentado de Camarate. Para isso, numa reunião num iate ao largo de Cascais, foi entregue a quantia de 200 mil dólares a José Esteves para preparar um engenho incendiário. Fernando Farinha Simões, por sua vez, mantinha boas relações com a CIA através dos contactos na embaixada dos EUA em Lisboa logo a seguir à revolução de 25 de Abril de 1974.

Na volta do correio, A.J. Weberman recebeu uma carta da CIA no passado dia 4 de Junho a esclarecer que a agência de espionagem dos EUA “não confirma nem desmente” que tenha documentos relacionados com os dois portugueses. Ao não desmentir de forma peremptória, a CIA deixa em aberto a hipótese de que poderá ter algum tipo de documento que não pode ainda ser divulgado. Essa é a leitura feita por Jim Hunt, sobrinho de Frank Sturgis e autor de uma biografia dedicada ao seu familiar, morto em 1993. Jim Hunt, advogado no Ohio, espera agora que o Parlamento português o chame para vir a Lisboa testemunhar sobre Camarate.

 

Durante uma primeira visita a Portugal, em Novembro, onde participou na apresentação do livro “Camarate – Sá Carneiro e as armas para o Irão”, o sobrinho de Sturgis afirmou que não podia confirmar a participação do seu tio no plano que levou a Camarate, mas tem documentos na sua posse – fotos e algumas páginas do diário de Frank Sturgis – que comprovam que, entre 1977 e 1981, o americano viajou com alguma frequência até Lisboa.

 

Caso Camarate: CIA recusa-se a revelar documentosDaniel Chipenda e Víctor Fernandes, da guerrilha angolana,
com o americano Frank Sturgis, em Lisboa, em 1981

 

Na capital portuguesa, Frank Sturgis teve contactos com pessoas ligadas à resistência angolana, nomeadamente o guerrilheiro africano Daniel Chipenda e Vítor Fernandes, pessoa que também privava com Fernando Farinha Simões. Jim Hunt acredita que, depois de testemunhar na AR, e face ao avolumar de referências à CIA, o governo dos EUA terá de esclarecer de forma mais transparente o que, afinal, sabe sobre Camarate.

 

 

 

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