Num artigo publicado esta semana, o Correio da Manhã decidiu publicar opiniões pessoais de jornalistas ditas num grupo privado.

O artigo, aparentemente inofensivo, fez mais uma vez abalar a confiança peculiar que algumas jornalistas e cidadãos tinham no Correio da Manhã – se é que ainda restava algumas. O CM, à procura do populismo, esqueceu-se de mencionar que o comentário do Facebok estava num grupo privado de Jornalistas, e que estes têm, como deviam ter, direito à sua opinião pessoal.

 

CM vai buscar opiniões a grupos privados no Facebook sobre o bikini da Judite de Sousa

O artigo, publicado pelo CM a 14 de Agosto, diz que “levantou ontem uma enorme onda de contestação”. Essa mesma contestação virou-se ao contrário no próprio grupo privado de jornalismo, ao qual o Tugaleaks tem acesso há vários meses.
Sem qualquer respeito pela vida pessoal ou profissional da jornalista, ou sequer um consentimento para uso da sua opinião, o Correio da Manhã decidiu citar a jornalista como “Ex” de José Sócrates.

 

CM vai buscar opiniões a grupos privados no Facebook sobre Judite de Sousa

 

Administrador do grupo comenta a situação

Joaquim Vieira, um dos administradores do grupo privado no Facebook, esclarece que sendo “um grupo acerca acerca de comunicação e jornalismo, e formado em grande parte por jornalistas, não vejo necessidade de que haja aqui informações privilegiadas. Os jornalistas devem ser transparentes. Se se batem pela transparência e o escrutínio dos poderes públicos, só vejo vantagem em que tornem a sua atividade também transparente e escrutinável. É claro que há uma matéria reservada na atividade dos jornalistas, que é a confidencialidade das fontes, mas este também não o local para quebrar essa confidencialidade. Nunca, jamais, em tempo algum”
Já em relação à notícia do CM, afirma que “[o] que se passou classifica o tipo de jornalismo de quem o fez. Como defendo a máxima liberdade do jornalismo, não vou ao ponto de condenar a atitude. É uma opção que tenho de aceitar, mesmo que pessoalmente me desagrade. Se houve alguma violação de alguma lei, que se queixe e se defenda quem de direito. Por outro lado, quem intervém neste espaço deve ter a consciência do alcance das suas palavras”.

 

Fernanda Câncio foi também contactada mas preferiu não comentar a situação.

O uso de informações do grupo de jornalistas já foi também efectuado pelo DN e a jornalista Joana Latino (S)C, que na altura manifestou o seu desagrado.

 

Vale a pena apresentar queixa?

judite-de-sousa-capa-revista-carasQuando Fernanda Câncio apresentou queixa por ser tratada como “namorada de José Sócrates”, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas considerou em 2009 ser “tecnicamente incorrecta e deontologicamente reprovável o enfoque e identificação da jornalista como sendo ‘namorada de’”. Já para a Comissão da Carteira Profissional de Jornalista é de “de interesse público” saber-se essa informação. Dois pareceres diferentes na mesma área.
No entanto, sabe-se pela leitura do Tugaleaks que raros são os casos em que uma queixa contra o Correio da Manhã dá bons frutos.
No final de 2012 o então Movimento Cívico Tugaleaks apresentou queixa na ERC contra o Correio da Manhã por mencionar erradamente uma informação numa entrevista que foi, inclusivamente, gravada. Da deliberação 19/2013, que se encontra online, pode ler-se que devia ser efectuada a “… publicação do texto em tantos suportes quantos aqueles que serviram de plataforma para a difusão do escrito original, ou seja, edição impressa e on-line… ”. Tal publicação nunca surgiu. Por duas vezes o Movimento Cívico Tugaleaks questionou a ERC sobre a multa aplicada ao CM, quer pelo atraso quer pela não publicação online do direito de resposta, mas nunca obteve resposta.
Já em 2013 o Tugaleaks noticiou que a ERC tem tido vários “avisos” ao CM pela violação de direitos de resposta e outros, mas que nunca passam de avisos, não havendo qualquer informação, pelo menos pública no site da ERC, sobre coimas aplicadas ao Correio da Manhã.

 

Se é jornalista ou está ligado à comunicação e pretende fazer parte do tal grupo privado, pode fazer o seu pedido. Mas lembre-se, o que disser pode ser usado numa próxima notícia e provavelmente contra si.