Certo é que todos nós estamos habituados a ler crónicas de senhores e senhoras que insistem em afirmar de sua razão, politicas privadas que nada mais são que um exemplo de mentalidades atrasadas em relação ao seu tempo. Cada vez mais as conversas de café são dominadas por comentários que raramente são dos que partilham o momento, mas sim daqueles senhores a quem as estações televisivas insistem em dar tempo de antena, numa insistente demonstração de falta de originalidade.

Sobre as touradas: impunes saem os que falam do púlpito

 

Se é certo que poderíamos estar dias a falar dos variadíssimos senhores e senhoras que passam horas a tentar moldar as mentes daqueles que ainda se influenciam por tais opiniões, hoje falaremos somente de um – Miguel Sousa Tavares.

Recentemente, e exercitando a sua liberdade de expressão, aliás, algo que gosta de citar com frequência – a liberdade – como se dela nascesse um direito de dizer toda a barbaridade que lhe vem à cabeça, o senhor escreve que o projecto de lei do Bloco de Esquerda (aquele que visa condicionar determinadas actividades que envolvem tortura física e psicológica de animais, ou o condicionamento do incentivo público e transmissão televisiva dessas actividades) não é nada mais do que uma forma de eventualmente vir a proibir essas mesmas actividades, sendo este projecto nada mais que o início de um movimento que ainda dará mais cartas (na opinião do autor destas palavras, esperemos que sim). Bem, se o é ou não, certamente não seremos nós a dizer, mas que este senhor insiste em ser um troglodita social, disso não há dúvidas.

A “crónica” deste senhor está disponível na internet e começa desde logo por criticar as transferências de propriedade nacional para privados internacionais, como que a chamar à conversa um espírito nacionalista. De nacionalismo este senhor percebe pouco, aliás, foi dos poucos ditos “cronistas” que expressou disponibilidade para se mudar para um dos países lusófonos (o mesmo que incentivou o acordo ortográfico que tanto criticou) porque é “muito bem tratado sem ser popular na rua, o que é óptimo.”. Óptimo seria que já tivesse ido.

Devo salientar o seguinte, este senhor faz lembrar um outro de quem duvidamos muito da credibilidade da licenciatura, porque tem a ousadia de equiparar um condicionamento a uma proibição. Desde logo, não é necessário ser licenciado em Direito para pegar num dicionário e entender que a definição das duas palavras é diferente. No fundo explica porque é que este senhor exerceu Direito enquanto advogado durante tão pouco tempo e se dedicou ao que quer que seja que faz hoje em dia (não consigo definir o que este senhor faz da vida) – é fraquinho mesmo.

Minhas senhoras e meus senhores estamos perante um dos problemas deste país, damos voz aos mais absurdos cidadãos e criticamos aqueles que se juntam às centenas pelas ruas de Lisboa para expressar a sua opinião. Porque se a tourada (que tanto defende) é um exemplo cultural ou uma tradição, de lembrar será que “a tradição é a personalidade dos imbecis”. Mas também temos de ser justos. No que toca a este senhor, tudo o que afecte a sua masculinidade é uma abominação. Não se pode falar de homossexualidade, direitos de animais e perigos do tabaco a este senhor que ele começa a compensar a falta de algo com o exagero de palavras insensíveis, que desde há muito que deixaram de ser incisivas e pragmáticas para serem absurdas e retrógradas.

O avanço social implica a extinção de práticas bárbaras que não se identificam com o progresso. Claramente, o “jornalismos de opinião” medíocre que se pratica neste país terá de ser mais uma prática a ser abolida, juntando-se à escravatura e à pena de morte. Ninguém procura atingir a liberdade alheia a escrever contra o senhor, ele é que claramente não entende o conteúdo da sua liberdade.

A tourada e todas as actividades que dependam da tortura ou morte de animais só salientam no povo que as pratica um atraso cultural muito grande. Nunca me levantei de manhã para caçar, nunca assisti a uma tourada, odeio circos e a maneira como os animais são tratados para entretenimento do povo. E sei que não sou o único. Se a este senhor não resta nada senão lutar, que se lembre que contra ele (e todos) também lutamos, e não somos uma minoria. Somos nada mais, nada menos, que a voz do progresso.

 

Tiago da Encarnação Leal

Ler a crónica de Miguel Sousa Tavares aqui

 

Propostas de lei sobre touradas a consultar

Impedir o apoio institucional à realização de espetáculos que inflijam sofrimento físico ou psíquico ou provoquem a morte de animais.

O fim da exibição de espetáculos tauromáquicos na televisão pública e alterar a lei da televisão